quarta-feira, 13 de março de 2013

Neoludismo contra a violência

Uma das principais preocupações da sociedade moderna em todo o mundo é o combate as drogas. As drogas promovem danos à saúde de seus usuários e possuem elementos na sua composição que levam ao vício químico. Segundo a voz dominante, as drogas são ainda, a principal responsável pelos altos índices de violência que atingem não somente as grandes metrópoles mundiais mas atualmente os nossos sertões, pequenas vilas e até as zonas rurais. Os governos das principais democracias mundiais se propõem a possuir políticas permanentes no campo da repressão e na saúde pública.

Os trabalhadores ingleses, no início da revolução indústrial, liderados ou influenciados pelo operário inglês Ned Ludd, iniciaram um movimento que visava a destruição daqueles novos inventos que, aumentando a produtividade, resultavam na demissão em massa de milhares de operários naquele país. Na lógica dos trabalhadores ludistas, as máquinas eram as responsáveis pelo desemprego em massa, raciocínio a primeira vista vista correto: entraram as máquinas, saíram os empregos, da mesma forma que raciocinamos diretamente que a desgraça de uma família se inicia com a entrada da droga, nada mais natural.

O ser humano, dada sua capacidade de reflexão, não se contenta com o existir, mas busca satisfação física ou espiritual. De alguma maneira, cada um de nós, em maior ou menor escala, incorpora na sua vida hábitos que visam suprir esta satisfação, alguns a encontram no trabalho, outros em atividade física, alguns na gastronomia, outros na atividade sexual e nos jogos de conquista, outros nos jogos de poder, enquanto outros encontram esta satisfação no consumo de algumas substâncias, originalmente da natureza industrializadas ou não que trazem satisfações físicas diferentes: entorpecimento, euforia ou alucinações. Estas podem ser legalizadas ou não. Convivemos com estes hábitos, de uma maneira geral, de forma equilibrada, sem desestruturar em nome deles nossos regulamentos de convivência social.

Embora as drogas convivam com o ser humano desde o início da vida em sociedade ou até antes dela, nunca se viu tanta compulsividade e intensidade no seu consumo, mas também nunca se viu tanta compulsividade e intensidade no consumo de todas as adicções. Este é um dos fenômenos que precisa ser compreendido para compreender como superar o cenário atual. Talvez exista um grande vazio existencial coletivo que esteja nos blindando de enxergar a vida em toda sua complexidade e que nos permita somente ver fragmentos. A humanidade está perdendo suas utopias e, na falta delas, precisamos preencher isto com algo. Desta forma, a primeira conclusão que tiramos é que as adicções, incluíndo a de drogas, é um efeito colateral do nosso status atual de civilização, péssimo para quem quer "resolver o problema" de forma imediata, ótimo para quem que voltar a sonhar.

Destruir as máquinas não era a solução, era impossível fazê-lo, estamos ainda aprendendo como utilizá-las a favor do ser humano.

A violência, por sua vez, não é um ato decorrente da adicção. Como sentimento natural de todo ser humano a violência é, em situações de equilíbrio social, controlada na sua via mais perversa e utilizada a favor do indivíduo e da sociedade na sua via mais branda. O desequilíbrio do exercício da violência nos nossos tempos vem de um processo selvagem de coisificação da existência, dos sentimentos e dos valores humanos em torno da sociedade de consumo. Nos últimos ciclos de extinção e ressurreição do capitalismo, quando mais nada faltava virar mercadoria, resolveu-se transformar em mercadoria a vida humana. Não por acaso, a indústria do entretenimento e a indústria da vida virtual são duas das mais fortes no mundo do capital. Sem referências, fica a violência. Quando o ter justifica o ser, fica a violência. Simples assim.

Por isso que qualquer discussão que dissocie o discurso da drogadição e da violência com o estágio atual do capitalismo é lenga lenga, é enrolação.

As medidas propostas pelos setores conservadores reforçam a aprofundam esta lógica: a política de retirada das maças podres do convívio social para não desequilibrar o reino do consumo. A internação compulsória de hoje é a prisão de amanhã e o extermínio de depois de amanhã. O fundamento é o mesmo: quem não se enquadra vai pro saco. Mais um mecanismo de controle dos nossos corpos e das nossas mentes em nome da acumulação.

A lógica fica muito clara quando partimos para exemplos concretos. Onde se combate o crime organizado e o tráfico de drogas? Na periferia. Por quê o crime organizado e o tráfico continuam? Onde estão as cabeças? Onde estão aqueles que vivem milhonários com o tráfico? Quais os estabelecimentos que servem para lavagem de dinheiro do crime? Na boca miúda muito se sabe, na prática não se combate nada. Pior, as mortes da periferia fazem parte da contabilidade do tráfico e tornam a mercadoria mais valiosa.

Outro exemplo, este indireto. Em entrevista dada ao Jornal O Povo de hoje o vereador Capitão Wagner questionou porque se investigava como crime a greve dos profissionais de segurança pública e não se investigava como crime grupos de extermínio existentes no nosso Estado. Deixo a resposta para os leitores.

Saudações Fraternas,

Demitri

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